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Dia da Mulher: preconceitos, estereótipos e como a leitura pode ajudar

Fran Borges


8 M e como a leitura me ajudou e pode te ajudar a romper com estereótipos e preconceitos.

Eu não sei vocês, mas eu tenho pré-conceitos e estereótipos arraigados na cabeça por mil razões. Seja pela classe social, pelo que vemos na mídia, a criação que tive e os meios de aceso que me foram disponibilizados.


Uma das grandes magias da leitura, dos livros, sejam de ficção ou não-ficção, é colocar por terra cada preconceito e estereótipo que você aprende ao longo da vida. Eles são criados, o medo faz com que muitos deles surjam, mas assim como são criados, eles podem ser desconstruídos.


Claro que, isso nunca acontece sem dor. Nesse Dia Internacional da Mulher gostaria de compartilhar com vocês alguns livros que me fizeram romper com alguns dos meus preconceitos e estereótipos. Livros que me fizeram acessar realidades diferentes das minhas e aprender, ser mais empática.


Eu sou Malala, que conta a história real da luta de Malala pela educação de meninas no Paquistão e o ataque terrorista que ela sofreu pelo talibã. Ela sobreviveu, teve que sair do seu país e continua hoje sua luta pelos direitos humanos das mulheres e seu acesso à educação. Ela foi laureada com o Prêmio Nobel da Paz. Você tem a opção de ler o livro que conta a sua história ou assistir ao documentário de mesmo nome.


Minha visão sobre as mulheres dentro da religião muçulmana não era muito positiva, para falar a verdade, ela se baseava no senso comum da opressão dessas mulheres sem nunca ter parado para ouvi-las de verdade. Malala me mostrou que o problema não é a religião ou a cultura em si, mas sim a forma que alguns se aproveitam delas.


Malala é muçulmana e gosta de ser muçulmana e isso não impede que ela faça outras coisas na sua vida, como ser uma grande ativista e lutar pelos direitos das mulheres. Eu posso não ter afinidades com essa cultura, assim como ela pode não ter com a minha, mas esse não é o problema. O ponto aqui é ouvir e respeitar.



Olhos d´Água de Conceição Evaristo, uma das maiores escritoras brasileiras contemporâneas, é um livro curto de contos onde Conceição nos apresenta diversas mulheres pretas. Vivências periféricas, mulheres que vivem nas ruas, classe média, suas vivências, sua cultura, sua religião. São contos que mostram a realidade estampada muitas vezes nas capas de jornais como apenas mais uma estatística. Conceição dá vida a esses números e nos convida a entrar em contato, no meu caso, com realidades muito diferentes da minha.


O olho d´ água pela fome, por ver os filhos com fome. A violência que enxerga a cor e o local onde se vive. O dia a dia que sufoca. A cultura e a religião que traz o pertencimento. E uma frase desses contos que cala muito fundo “Combinaram de nos matar. Mas nós combinamos de não morrer.”


O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e lutas feministas de Silvia Federici. Esse foi um dos tapas na cara mais bem dados que já levei. A forma como nós mulheres aprendemos sobre o trabalho doméstico e o estereótipo que criamos. A frase impactante do livro “O que vocês chamam de amor, nós chamamos de trabalho não remunerado”.


Silvia Federici é uma filósofa, professora, feminista italiana e foi pioneira na campanha que reivindica salário para o trabalho doméstico nos anos 70. A nossa visão romantizada que todo esse trabalho é feito por amor. Claro que fazemos muitas coisas por amor aos nossos familiares, mas isso deve partir de todos e não apenas da mulher.




As mulheres ainda são as principais encarregadas pelo cuidado dos filhos e familiares doentes, além de todo o serviço doméstico, alimentando e vestindo o futuro e o atual trabalhador. E a questão que é colocada nesse livro, e confesso que me senti muito burra por nunca ter alcançado esse conceito de forma clara, é que se as mulheres quando saem de casa para trabalhar com o trabalho doméstico, cuidar de crianças em uma creche ou acompanhar algum doente ela é paga por isso, mas quando faz a mesma coisa dentro da sua casa não. Bum!!! Minha cabeça explodiu, parece simples, mas é tão arraigado na nossa cabeça que eu não conseguia enxergar.


Minha percepção pelas mulheres que trabalham em casa mudou, minha visão sobre os auxílios criados pelo governo mudou, nem deveria ser auxílio e sim salário. A legislação trabalhista sempre dificulta mais para as mulheres, a própria previdência. É muito mais difícil se aposentar quando você é mulher. As mulheres precisam largar seu emprego com frequência em nome dos cuidados. Livro sensacional.


Por último quero falar de um livro que está em andamento, ainda não terminei de ler. Banzeiro Okótó – Uma viagem pela Amazônia Centro do Mundo, de Eliane Brum. Ela se mudou para Altamira no estado do Pará e de lá, do Centro do Mundo, como ela diz no seu livro, escreveu esse livro reportagem sobre a Amazônia e seus povos.


Sendo Altamira uma das cidades mais violentas do Brasil e epicentro da destruição, Eliane denuncia a escalada da violência e da devastação da floresta e dos povos que vivem nela, mas não apenas deles, mas de todos nós.


No livro temos a visão de uma mulher branca e ela logo deixa isso muito claro. É um livro escrito por uma mulher branca para a leitura de outros brancos, pessoas que não vivem na floresta.


Temos a sua visão da vida de mulheres indígenas, ribeirinhos e os demais povos da floresta. Muitos conceitos programados na minhas cabeça vão caindo a cada capítulo. Em tempos do aumento da violência contra os povos indígenas e com a questão climática se agravando, esse é um livro que já se tornou essencial para mim.


Espero que vocês tenham gostado desse compartilhamento e me deixem aí dicas de livros que fizeram vocês romperem com pré-conceitos arraigados. Seguimos na luta como mulheres por um lugar mais digno e que nos respeite dentro de cada particularidade e como um todo.


 



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