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ACE: o que assexualidade revela sobre desejo, sociedade e o significado do sexo de Angela Chen

Lu Days


"O objetivo da visibilidade ace é simplesmente o objetivo da verdadeira liberdade sexual e romântica para todo mundo"



Sem tradução para o português, o livro Ace de Angela Chen apresenta a assexualidade para

pessoas allosexuais e pessoas que gostariam de compreender a si mesmas dentro do espectro assexual ou para pessoas que, assim como eu, querem aprofundar os conhecimentos sobre a própria assexualidade.


Angela é uma jornalista assexual chinesa que mora nos Estados Unidos e se identifica como uma mulher cis. A autora faz laços entre dados de pesquisas, trabalhos teóricos e depoimentos de pessoas ace, que foram colhidos pela mesma. Separado entre diversos temas o livro é importante para entendermos não apenas sobre assexualidade, mas também sobre leis matrimoniais, indústria farmacêutica e a potencialização do feminismo liberal.


Para mim o essencial dessa leitura é que Angela Chen utiliza de tópicos que perpassam o tema geral da assexualidade, analisando a questão sobre os primas de gênero, classe, raça e deficiência. Levando em consideração que a abordagem da sexualidade sempre vai ser diferente para nativos de onde ela mora (Estados Unidos) e pessoas do resto do mundo.



ace angela chen

Bem como, a vivência da assexualidade vai ser diferente entre ricos e pobre, mulheres, homens e pessoas trans e pessoas com deficiência. O tema que mais me surpreendeu foi o feminismo liberal e como o sexo liberal faz as mulheres feministas assexuais se sentirem culpadas. Se você é feminista e não está transando, não está sensualizando o seu corpo do jeito que é, se você não mostra que seu corpo é livre, então você é uma puritana.


E puritanas são mulheres conservadoras. A assexualidade é muito além do movimento corpo livre, porque além de assegurar que mulheres podem ter relações do jeito que elas quiserem, já que existem pessoas assexuais que gostam de sexo (e diversos tipos de"fazer sexo"), também liberam mulheres que não sentem atração sexual, ou tem qualquer outra questão com o ato, de serem obrigadas a transar.


Além disso, mostra dados de como a assexualidade tem sido estudada num meio de pessoas brancas, e aqui eu não sou considerada branca e sim latina. A partir disso o livro conta com diversos depoimentos de pessoas negras, latinas e asiáticas (o caso da própria autora). A análise feita aqui é enorme já que cada cultura trata a sexualidade de maneira diferente. O que me fez questionar muita coisa sobre o impacto de ser latina e assexual, coisas completamente opostas, já que se deduz culturalmente que todo latino é "fogoso".


Conceitos como esse estão impregnados em nós, e explica muito da sensação de inadequação, pois para todos os lados que olho o padrão (aqui não falo de corpo, mas de comportamento) é a hipersexualização das vivências latinas.



Agela Chen
Autora

O último tema que me encontrou foi a deficiência. Um dos paradigmas que a comunidade assexual tenta derrubar é a falácia de que assexualidade só se "manifesta" em pessoas doentes ou com deficiência. A indústria farmacêutica e seus elixires para a vida sexual (hormônios, viagra e outras drogas) afirma isso o tempo todo querendo nos curar.


Não é incomum que dentro de um casamento pessoas recorram a médicos para descobrir a causa da falta de "apetite sexual". Bem, talvez a razão seja que você ama seu parceiro, só não sente atração sexual. Simples, né.


E com todos esses elementos é difícil que uma pessoa com deficiência não seja vista de forma questionadora pela comunidade ace. Afinal de contas, pessoas com deficiência também batalham para acabar com o estigma de que não são atraentes ou que não gostam de sexo.




Contudo, como qualquer outra sexualidade, PCDs também podem ser assexuais. O que é o

meu caso. E, sim, já me questionei várias vezes se eu não sinto atração sexual e romântica pelas pessoas, ou se é só a minha falta de audição atrapalhando meu desenvolvimento social. No final, a resposta é que são duas coisas bem diferentes. Minha deficiência não tem nada a ver com a minha sexualidade.


No livro a autora também aborda temas como atração romântica, os efeitos da mídia na vida

sexual compulsória e os diversos tipos de atração. É um estudo muito completo sobre gênero, raça e classe a partir do ponto de vista da assexualidade.


E ao final da obra a autora destaca "O objetivo da visibilidade ace é simplesmente o objetivo da verdadeira liberdade sexual e romântica para todo mundo" e que "Qualquer coisa compulsória é o oposto de liberdade", ao se referir a relações românticas e sexuais compulsórias para qualquer pessoa. Se você sabe ler em inglês eu indico muito esse livro, sendo ace ou não.


 



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