Fran Borges
Você vende bem o seu produto? Uma frase muito boa da primeira trilogia: quem é o verdadeiro inimigo? A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes se propõe a te contar, será que o filme faz isso bem?
Para compartilhar essa experiência com vocês, e já digo de cara – experiência de uma fã – gostaria de ressaltar a importância da mensagem de Jogos Vorazes escrita por Suzanne Collins. Uma distopia voltada ao público jovem adulto e que traz uma crítica poderosa ao modelo politico do seu país, EUA, predominante no mundo. E A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes veio para coroar esse belo trabalho.
A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes se passa sessenta anos antes dos filmes e livros protagonizados por Katniss Everdeen e vai contar a história de ascensão do ditador Coriolanus Snow, mas não é apenas isso. Snow representa todo um modelo de sociedade e uma forma de pensar que subjuga aquele que considera menor, porque para muitos alguns são mais humanos que outros, esse é o caso do Snow.
Como uma barbárie como os Jogos Vorazes se tornou campeão de audiência, com pessoas festejando e “torcendo” pelo seu tributo, fazendo apostas, encaminhando migalhas como água, remédio ou comida para eles enquanto estão em uma arena fechada matando uns aos outros. Crianças em sua maioria.
Como uma capital explora e escraviza distritos ou você poderia chamar de colônias. Suga tudo o que eles produzem, vivem na riqueza e opulência enquanto os demais mal conseguem comer, sobreviver.
Esse livro/filme conta a história de como tudo isso se tornou tão aceito e normalizado. E aí você pode pensar: como a escravidão era e ainda é aceita pela sociedade? Como a ascensão de personagens como Hitler foram aceitos? Como muitos justificam milhares de mortes de crianças hoje em Gaza? Uma resposta: propaganda.
Você vende bem o seu produto? Tem um enorme poder bélico e explora bem aqueles que consegue dividir? Uma frase muito boa da primeira trilogia: quem é o verdadeiro inimigo?
Esse é o poder da mensagem dos livros de Suzanne Collins. E A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes faz isso com maestria.
Falando do filme, eu achei uma ótima adaptação. De fato, é muito fiel ao livro, mas achei que não aprofunda tão bem algumas questões. Talvez você simpatize mais com Snow se viu apenas o filme, por exemplo, não que ele passe pano para as suas decisões, ele não faz isso, assim como o livro, mas ele não deixa algumas situações claras. O filme é um pouco mais dúbio na minha opinião.
Lucy Gray faz um contraponto perfeito ao Snow, porque ela também mente, engana, mas com uma diferença ela tem seu limite e ela o faz para sobreviver. Snow vai muito além disso.
O figurino e a fotografia são ótimos e trouxeram toda a atmosfera do livro. Aquela coisa mais suja, uma capital começando crescer, uma tecnologia ainda em ascensão.
O elenco foi muito bem escolhido, com destaque para Viola Davis que faz Dra. Gaul aquela cientista sem o mínimo de escrúpulos e responsável por organizar os jogos. Todas as bestas e aberrações que vocês viram nos primeiros filmes são sementes plantadas por ela.
Peter Dinklage como o reitor da universidade também está incrível, ele rouba a cena sempre que aparece. Tom Blyth convence como Snow, apesar de que, eu confesso, esperava um pouco mais. Mas ele segura a arrogância do personagem, o problema foi que pra mim ele era muito mais arrogante e isso parece ter sido um pouco suavizado. Rachel Zegler brilha nas cenas musicais ao interpretar a artista e tributo do distrito 12 Lucy Gray, mas deixa a desejar em alguns momentos mais dramáticos, ao menos para mim.
A trilha sonora é o diferencial dessa adaptação, pra mim a coisa mais perfeita do filme. Eu gostei do filme, achei uma boa adaptação, mas não supera o livro, para ser bem honesta acho que ele não alcança a grandiosidade do livro. E sendo mais honesta ainda, acho que os filmes anteriores eram complementares aos livros, tão bons quanto.
E você já assistiu A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes? Gostou do filme?
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