Lu Days
Descubra hoje no Ken Pode Ler
Você leitor já parou para pensar sobre o quanto de aproveitamento interpretativo conseguimos tirar de um livro? Como assim? O que vem a ser aproveitamento interpretativo? Bem, na verdade essa expressão eu acabei de pensar. Não sei se ela já existe e se existe se refere ao que vou explicar aqui. Contudo, a gente bem sabe que interpretação é a alma de uma leitura, mas você acha que consegue interpretar por completo o que o autor está indicando na obra? Mesmo depois de várias leituras?
Existem muitos textos que mesmo sendo em prosa acabam soando bem poéticos. Seja intenção do autor ou não, algumas palavras caracterizam uma coisa diferente do sentido que estão empregadas na frase e escondem dos leitores o fácil acesso aos sentimentos ou descrições da história. Às vezes, até mesmo aquele plot twist poderia ser descoberto antes da hora pelo leitor porque o autor o escondeu no começo ou na metade da narrativa. Isso é uma série de ferramentas utilizadas na prosa, no poema, em músicas e, visualmente, em séries e filmes.
Se você já tem o habito da leitura, é bem possível que tenha desenvolvido o pensamento analítico de absorver essas informações escondidas mesmo sem saber de onde elas vieram.
Figuras de linguagem, escolhas de palavras, figuras de som e outras ferramentas da linguagem para ludibriar o leitor podem ser encontradas em livros como Cem anos de solidão, O mar sem estrelas e alguns contos de Clarice Lispector. Hoje vou usar o livro Todos os santos malditos (tem no Kindle Unlimited) da Maggie Stiefvater como exemplo para demonstrar coisas além das palavras.
Começando pelo título, santos malditos, dá uma ideia de contraste, de sentido duplo e contrário. Coisa que encontramos no livro todo, em diversos momentos a narrativa, que acompanha uma família mexicana tradicional imigrante nos Estados Unidos capaz de operar milagres de fato, brinca com a palavra milagre, podendo significar ela mesma, como sistema de cura que a família consegue usar, ou a necessidade de cura nos laços familiares.
Outras alegorias que se seguem são: um caminhão que nunca funciona (automóveis de qualquer tipo sempre representam jornada e se ele estiver parado é porque a jornada ou está pausada por algum motivo, ou porque chegou ao fim), flores que parecem falsas e flores de papel que parecem verdadeiras (tudo o que vem da natureza está ligado à vida. Uma floresta escura é obstáculos que aprisionam uma vida. No caso de Todos os santos malditos a autora destaca, mais uma vez, o contraste para justificar as intenções na relação dos criadores de flores).
Livros como esse são os que mais me chamam a atenção sempre. A escolha de palavras e os segredos que precisamos decodificar mostram que o autor pensa muito no leitor e como a história pode ser sentida de diversas maneiras. Interpretação pode ir muito mais a fundo do que estamos acostumados. É bom discutir se um livro é bom ou ruim, porém é muito melhor debater sobre todas as nuances escondidas nas narrativas. Faz a gente pensar e encontrar coisas que não teríamos encontrado sozinhos.
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