Lu Days e Fran Borges
Barbie furou a bolha e foi uma experiência catártica para uma geração tirando sarro tanto dos feminismos quanto do patriarcado.
Greta nos deu um filme nonsense no estilo animações da Cartoon Network. Cheio de colagens e paradas abruptas no meio da narrativa. Distanciando o filme do gênero "sessão da tarde". Barbie furou a bolha, mas é um filme de nicho.
Tirando sarro tanto dos feminismos quanto do patriarcado, o filme está ali pra fazer piada de tudo que a gente sabe que é meio idiota no nosso cotidiano. Ao mesmo tempo em que temos uma ilha de fantasia (barbielândia), Greta massacra nossa imaginação botando na consciência da boneca que ela pertence à Mattel. Ou seja, nossa imaginação não passa disso. Um mecanismo pra gente se iludir.
O ponto alto pra mim foi o Allan. A maneira como ele não se encaixa em lugar nenhum na barbielândia e como não é aceito nem pelas Barbies e nem pelos Kens, mas tem uma confiança enorme perto das humanas, sendo acolhido por elas. Allan sabe quem é, sabe do que desgosta e entende suas próprias perspectivas sobre as coisas. Ele é independente de qualquer outro boneco e isso o faz genial pra mim.
Outro ponto forte foi o monólogo da personagem da América Ferrara. Num primeiro momento soa bonito e verdadeiro, mas ela precisa repetir ele pra acordar todas as Barbies e se torna cansativo. Mostrando que nossos discursos feministas são explorados tão exaustivamente que perdem o sentido. Seremos sempre só discursos bonitos para acordarmos umas às outras?
Oi, Fran aqui, para mim foi uma experiência catártica porque brinquei muito de barbie e tinha vários brinquedos. Eu tinha uma barbilândia dentro de casa e, assim como a maioria, eu não tinha um Ken.
O que mais gostei no filme é o seu tom de deboche e como ele demonstra o transe que o patriarcado/sistema provoca. Em um primeiro momento achei o monólogo da personagem da América Ferrara repetitivo, mas refletindo depois, achei necessário, principalmente observando o alcance que o filme teve.
A Lu perguntou se seremos isso sempre? Talvez sim. O sistema é muito forte e rasteiro e a nossa luta nunca termina. Eu tomei o discurso repetitivo a princípio, mas porque já faz bastante tempo que leio e estudo sobre feminismo, mas sei que essa não é a realidade da maioria e que é preciso ser repetido, gritado e propagado, então fico feliz se esse filme conseguir plantar uma semente.
Eu também assisti no dia seguinte a Barbie, Oppenheimer e o contraponto entre os dois filmes ficou muito claro. No dia anterior vi Greta ridicularizar o patriarcado e mostrar o quão ele é cruel não apenas com as mulheres, mas com a sociedade e no dia seguinte vi a disputa de egos entre dois homens, disputa de poder entre países que resultou na criação da bomba atômica comprovando o quanto, apesar do deboche que ela usa no filme, esse sistema nos destrói.
Recomendo muito os dois filmes. E se você gostou de Barbie e nunca leu nada sobre feminismo quero deixar dois livros curtinhos e muito bons para começar a ler sobre o tema. Vou deixar o link para os livros. Sejamos todos feministas da Chimamanda Ngozi Adichie (deixo aqui também o vídeo onde ela fala do livro) e Feminismo é para todo mundo da bell hooks.
PS: Ken Pode Ler, que é o nome do nosso blog, vem de uma piada interna. Ken pode ler? Só se a Barbie deixar.
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