Fran Borges
A história de uma grande mulher, Eunice, que permaneceu ali para seus cincos filhos, apesar de toda a dor. Impossível não sentir empatia por essa família, por essa mulher que lutou até o fim.
Ainda Estou Aqui é uma adaptação do livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva. Conta a história de Eunice, sua mãe, e como ela permaneceu ali, apesar da dor de ver seu marido ser levado de casa pela ditadura militar em 1971. Ele foi torturado e morto, e por muito tempo a família teve esperanças. Eunice consegue o atestado de óbito somente 25 anos depois, mas o corpo nunca foi encontrado.
Quero falar um pouco sobre Eunice. Muito se tem escrito e filmado sobre a ditadura militar, mas através da visão de um homem. Eunice segura aquela família, volta a estudar e se forma em direito. Uma defensora dos direitos humanos e especialista em direitos indígenas. Brigou até o fim.
Todas as mulheres, que assim como Eunice, perderam maridos, filhos e filhas, irmãs e irmãos, alguém que amavam. Várias dessas famílias, assim como a família Paiva, nunca terão o direito de velar o corpo de quem amavam. Famílias que tenho certeza, não passam um dia sem lembrar do desaparecimento de seu ente querido.
Fernanda Torres interpreta Eunice como ela era ou teve que ser: uma rocha. Ela ainda estava ali e precisava cuidar dos seus 5 filhos. Como Rubens era dado como desaparecido, a família não tinha direito de acessar seus bens por 25 cinco anos, quando finalmente, com o atestado de óbito em suas mãos, puderam ter acesso.
O trecho do filme onde ela sorri com atestado na mão e fala: é estranho estar feliz com um atestado de óbito. Outra fala na mesma cena, uma repórter pergunta para ela se já não era tempo de falar de outras coisas mais urgentes e ela responde sorrindo: não. Essa cena me pegou, porque não sei se eu teria estrutura para chegar até ali. É como se a própria Eunice consola - se o espectador, que a essa altura já se esqueceu que está em um filme.
Selton Mello traz uma das atuações mais lindas que já vi dele. Ele interpreta o Rubens com uma delicadeza. Suas risadas, brincadeiras com os filhos, o amor por sua companheira e de repente tudo acaba. E quando você sai do cinema você se recorda que várias famílias enfrentaram isso. Como? Com a força de Eunice, que precisava estar ali para os filhos ou as famílias foram completamente destroçadas.
Ouso dizer que a maioria das famílias lideradas por mulheres seguiu.
“Tenha dito! Por conta da Comissão da Verdade, tive elementos para escrever o livro Ainda Estou Aqui, e agora temos esse filme deslumbrante. E Dilma pagou um preço alto pelo necessário resgate da memória.” Marcelo Rubens Paiva
E foi só aí que muitas dessas famílias puderam, pelo menos, saber o que aconteceu com seus entes queridos. Até hoje seguem pesquisas sobre os mortos na ditadura. Deixo o link aqui se você quiser ver.
Eu lembro da Comissão da Verdade, do relatório final feito em 2014. Lembro que baixei e você pode fazer isso aqui. Eu li uma boa parte, mas não consegui terminar. É pesado, violento e aterrador. Se você quiser ler um resumo sobre esse relatório essa reportagem da BBC está bem completa
Pra mim, o filme foi um dos mais violentos que já vi, porque ele mostra nas entrelinhas. Apesar de toda delicadeza com que Walter Salles, diretor do filme, filmou cada cena, elas doem como uma porrada. Não tem como você não ter empatia por aquela família. Se identificar quando você perdeu uma pessoa amada. Se identificar com essa família.
Uma obra - prima do cinema brasileiro. Deixo abaixo indicações de outros filmes e seus respectivos trailers sobre o mesmo tema e o trailer do filme Ainda Estou Aqui.
O que é isso companheiro tem o filme completo no You Tube aqui
Anos Rebeldes foi uma minissérie na Rede Globo, chamada aqui.
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